QUIMBANDA (EXU/POMBAGIRA)
(AXIRÔS/ELEBARAS)
Por: Brasão de
Freitas
Parte
2 – PRINCIPIOS ELEMENTARES DA QUIMBANDA
Belial
PRINCÍPIOS
ELEMENTARES DA QUIMBANDA
Muita
confusão existe a respeito da Quimbanda. Anos e anos de incompreensão, seja
pela omissão de um babalorixá na transmissão de conhecimentos a seus filhos,
seja em virtude de elementos inescrupulosos que a usam em benefício próprio
para satisfazer os seus egos.
Tudo
isto aliado a um sincretismo malfeito com a doutrina católica e outras
religiões espíritas ou não, originou uma visão deturpada, que ainda hoje muitas
pessoas têm em relação a Exu e a Pombagira, conhecidos como Elebaras.
Entretanto,
os Elebaras são bem diferentes do diabo cristão. É importante distinguir a
verdade de todas as infâmias e mentiras que dizem do Elebara, pois estas
entidades do panteão africano tem fundamental importância, interligando e
dinamizando os diversos planos em que se divide a criação do universo.
A
Quimbanda é uma religião espírita (Ela existe como religião em função dos
espíritos que lá vivem aprisionados), formada por espíritos em evolução, em
níveis de simplesmente espíritos em processo encarnatório, ou em níveis de
entidades que ocupam grau de comando chamadas de Orixás de esquerda (Chefes de
falanges ou legiões, etc.), sem entretanto ser um “Axirô” ou força equilibrante
dos Orixás. Estes últimos são representações em oposição equilibrante na
Quimbanda, dos Orixás da Umbanda. Os espíritos mesmo que em graus mais
elevados, presos às energias negativas da substância etérica, continuam sendo
espíritos, já “Axirô” é uma Vibração energética caótica em oposição à energia
espiritual luminosa do Orixá. Na Quimbanda o conceito do bem e do mal é
condição necessária ao aprendizado das entidades, mesmo porque os Elebaras não
fazem nada por conta própria, sendo sempre mandados. Como toda religião
espírita, a Quimbanda é formada por legiões que se agrupam em planos e
subplanos, formando agrupamentos e subagrupamentos, num serviço de atuação
terra-a-terra.
Os
espíritos que nela trabalham estão na fase elementar, isto é, em evolução
dentro de certas funções kármicas.
A
incompreensão a respeito destas entidades tem muito a ver com os pregadores de
outras religiões, tanto na África como no Brasil, o espírito limitado de certos
estudiosos e os relatos cheios de preconceitos e temor dos senhores coloniais.
Por suas cabeças nunca passou que a resposta dos negros em forma de magia ao
estado de escravidão era na verdade um grito de socorro e de liberdade na
direção dos direitos humanos. Ora, os escravos entendiam que, se suas
liberdades físicas podiam ser privadas pela força e pelo poder dos senhores,
eles, os escravos, sentiam-se no direito de tirar destes mesmos senhores a
liberdade da alma.
Nessa
guerra, o medo sentido pelos senhores era justificado, pois existia o mistério
no culto que cercava as figuras do Exu e da Pombagira, portadores da força que
interpenetrava todos os aspectos da existência, principalmente a doença. Além
do mais, seus alimentos eram preparados por mãos escravas que a qualquer
momento poderiam provocar uma morte ou doença por envenenamento. Portanto, era
uma força sem ética, pois tanto podia beneficiar o homem como prejudicá-lo,
sendo veículo do castigo dos Orixás.
Foi
assim que a magia negra africana ficou gravada na figura de sues executores, os
Exus.
Para
a Quimbanda o mundo dinâmico é uma interligação e equilíbrio de forças, onde as
existências reais não representam o aspecto exterior das coisas. Da mesma
forma, não existe uma fronteira rígida entre o bem e o mal.
O Elebara
é o Poder Organizado na “ordem telúrica”. Elebara quer dizer literalmente,
“senhor do corpo” ou aquele que comanda o corpo ou a matéria densa organizada
Elebara é um codinome, um “poder” atuante, sem emoções e inflexivelmente
cumpridor das Leis da Natureza, “atuando” na vibração dos Elementos e
“realizando” na vibração dos Elementais.
Em virtude da formação elementar, as
forças chamadas Elebaras operam por afinidade astral ligados às salamandras,
silfos, ondinas e gnomos, que são respectivamente os elementais (emanações
espirituais) do fogo, do ar, da água e da terra (espíritos da natureza), e de
onde eles tiram e formam energias que alimentam e mantêm pelo próprio poder
vibratório. E, como manuseiam os elementos formando misturas químicas e espirituais,
então são controlados pelo éter químico, que é o poder de Ogun. Em função
disto, todos os Espíritos que estão envolvidos (presos) pela força telúrica das
Trevas (Quimbanda), trabalham debaixo e em sintonia com as Vibrações dos
Elementais da Natureza (Fogo, Terra, Ar, Água) que não pertencem à Quimbanda.
Para
suas ligações terra-a-terra, utilizam as emanações fluídicas do sangue, além do
que é o elemento básico da vida material, do álcool, do dendê, da farofa, da
carne crua (com sangue), da pipoca, da pimenta e outros elementos de que fazem
uso com a seguinte finalidade: o sangue, para que não seja derramado pelo
médium; o álcool, para evitar qualquer tendência ao vício pelo médium; o dendê
para evitar que o médium tenha agitações descontroladas de ordem psíquica; a
farofa para evitar que o médium passe fome; a carne, para evitar que o médium
mate qualquer ser fora das regras da Natureza; a pipoca para que o elebara
atraia para si possíveis doenças kármicas dirigidas ao médium; a pimenta, para
frear os excessivos instintos principalmente sexuais do médium. Pela sua
condição de neutralidade diante da lei kármica o elebara pode energeticamente falando,
transmitir e ligar forças como também pode separar e confundir. É por isso que
o consideram patrono das trevas e da magia negra. Constitui sempre elemento
essencial a toda e qualquer manifestação do mundo dos Orixás: é portador da voz
de Ifá (Orixá que preside a adivinhação), é o porteiro de Ossãe dando acesso ou
não às ervas sagradas, controla os eguns (alma dos mortos ancestrais que vêm em
certas cerimônias), é também o guardião de todos os portais entre Luz e Trevas
e é o mensageiro, servo e cobrador das coisas dos Orixás.
Na
Quimbanda, a encruzilhada é a intercessão de dois caminhos, representando uma
parada, uma alternativa, uma opção e também uma dúvida. A necessidade maior de
se dar passagem para a esquerda (os médiuns) reside em que, ao permitir a atuação
desses seres do mundo das trevas, o médium joga para fora de si uma carga
energética negativa (É como se a carga que estivesse no médium fosse consumida
pela entidade). Esse processo canaliza os aspectos animalescos do médium na
direção da humanização e da espiritualização. Sem o descarrego periódico das
vibrações negativas que se acumulam no canal mediúnico do médium, este é levado
ao desânimo, preguiça, menosprezo, doenças, etc., fatos que o conduzem ao
desequilíbrio e, fatalmente, ao centro da encruzilhada.
Como diz o OGBE MEJI: “Orunmilá diz que
as coisas devem ser feitas pouco a pouco: Eu digo; é pedaço por pedaço que se
come a cabeça do preá; é pedaço por pedaço que se come a cabeça do peixe.”
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