RITUAIS E CAMARINHAS
O QUE SÃO E COMO SÃO
Por: Brasão de
Freitas
A
CAMARINHA
Foto Bob Retina
Prólogo
A Camarinha é um ritual de iniciação, de
vivência, de aprendizado, de assentamento, e de transmissão de poder na
Umbanda. Ela representa sempre uma evolução espiritual pela força ritualística
de que é investida. As pessoas leigas e as desavisadas costumam achar que a
Camarinha é um mistério, um dogma. Mas não é verdade, pois todo umbandista,
independente do seu grau hierárquico tanto na comunidade a que pertence como na
Umbanda de uma maneira geral, tem direito a “entrar em camarinha” sempre que
for necessário por força dos rituais ou por circunstâncias da vida.
Na Umbanda, os mistérios são revelados a
medida em que o ser humano adepto vai evoluindo no seu entendimento das coisas,
na sua personalidade e na sua índole. Não é somente o médium que faz camarinha.
Todos os adeptos de um Templo “precisam” entrar em Camarinha para um
aprendizado mais refinado e um pouco diferenciado entre os diversos grupos
comunitários. Cada ser humano tem o seu “momento certo” para querer aprender e
para aprender, uma vez que o seu aprendizado depende fundamentalmente e
decididamente de sua única vontade. Muitas vezes a pessoa que está do seu lado
numa comunidade pode ainda não estar preparada para entender certas verdades
que, se para uns “está na cara”, talvez para esta pessoa ainda seja muito
complicado tomar conhecimento da profundidade desta verdade, pois a sua mente
de certo não aceitaria por não entende-la, provocando nesta pessoa transtornos
que venham interferir no seu destino (o que seria terrível para ela e para quem
provocar este estado de consciência que interfira negativamente na vida da
pessoa) e portanto na sua atual encarnação.
Os mistérios não são proibidos na
Umbanda. Muito pelo contrário. Apenas é preciso respeitar o grau de
entendimento das pessoas. Qualquer informação pode ser dada em diversos níveis
de entendimento. Portanto, todos têm o direito de aprender tudo o que quiserem
saber. Cabe aos mais esclarecidos procurar descer ao nível de entendimento dos
menos esclarecidos para poder ajudá-los a entender aquilo que querem saber
sobre a religião.
A Camarinha é o melhor momento para se
aprender “as coisas de Deus”. Nela existe todo um ambiente propício preparado
através de rituais místicos onde a mente pode se elevar e penetrar no mundo
sobrenatural e, através da Luz Espiritual, alcançar seus objetivos de
aprendizado e aperfeiçoamento da pessoa. Lembre-se sempre que, aquilo que é
fácil e racional para você poderá ser difícil e inteligível para outro. Não
seja um caçador de adeptos para a religião que você gosta e entende. Seja
apenas você mesmo, com um comportamento exemplar, sincero humano, feliz e
competente nas suas atitudes, que certamente alguém que estiver desarmonizado,
sofrendo na vida vai tentar imita-lo ou pedir sua ajuda. Aí sim, é chegada a
hora de agir e ajudar.
Como existem pessoas com grau de
entendimento diferente uns dos outros, é claro que os ensinamentos místicos e
religiosos ou sagrados deverão ser ensinados de acordo com o grau de
entendimento das pessoas. Para se transmitir os ensinamentos para grupos de
pessoas, costuma-se utilizar os seguintes eventos para a comunidade: Palestras
onde a linguagem dos ensinamentos costuma ser de entendimento popular (se o
grau dos assistentes for heterogêneo), Cursos de Disciplinas místicas em
diversos níveis e Camarinhas também em diversos níveis. Portanto não se trata
de descriminação já que, como os aprendizados (e os ensinamentos) são
evolutivos, todos inclusive os que começam pelos níveis mais inferiores, podem
alcançar os níveis mais superiores. Por isto as Camarinhas são diferentes. A
Camarinha, a Palestra e o Curso são recursos necessários para que uma
comunidade possa atender a todos os níveis de entendimento no seu meio, na
revelação dos “mistérios da Criação” ou do sobrenatural.
São diferentes não só pelo nível dos
participantes como também e principalmente porque cada um dos participantes é
diferente dos demais e vice versa. Com isto, apesar de serem os assuntos
culturais e ritualísticos ensinados a um grupo, os mesmos assuntos ensinados em
outras Camarinhas de outros grupos, o entendimento do grupo será semelhante,
mas não igual ao dos demais grupos porque o intelecto individual das pessoas do
grupo faz a diferença. É como numa escola onde você vai passando de série no
seu aprendizado, mas os novos que vierem a aprender a mesma coisa certamente
aprenderão de forma diferente. Isto quer dizer que uma Camarinha nunca é igual
a outra.
A Camarinha é um ritual, e como tal
possui começo meio e fim. Portanto é um procedimento técnico que possui uma sequência
lógica.
O conteúdo da camarinha
Como ritual que é, a Camarinha
representa um caminho para se atingir uma meta. A meta é a Evolução em busca da
Perfeição Espiritual. Como a busca da perfeição é longa, o caminho se divide em
etapas. Assim, cada Camarinha é uma etapa de um longo caminho.
Como a Camarinha é um ritual, ela é
executada dentro de determinados padrões. Por exemplo, ela precisa começar
pelos valores mais densos e ir caminhando na direção dos mais sutis. Como ela é
uma “vivencia”, uma experimentação dos valores de uma dada ação, a mais
importante de todas as ações certamente é o renascer
para um novo estado de consciência. Ora, para você renascer precisa
logicamente de estar morto. Como o renascer a que nos referimos é o
conhecimento do mundo sobrenatural, então você não tem que morrer de fato, mas
sim sair da materialidade para penetrar no Mundo sutil. Ao atravessar o Portal
entre o que é material e o que é sutil, você acaba por se transformar, e esta
transformação é o novo estado de consciência em relação aos mistérios da
criação.
Nesta caminhada sobrenatural quem viaja
é a mente, mas quem padece é o corpo. O ser encarnado toma ciência do destino
(Odu) que ele mesmo escolheu e vai buscar as respostas para suas dúvidas e para
suas mazelas no conhecimento pleno de si mesmo. A Camarinha é uma viagem ao
interior do próprio Eu, pois é nele que se encontra a Centelha Divina.
Vamos agora definir a Camarinha através
de rituais e disciplinas. Como já foi dito, ela possui início meio e fim.
O Início representa uma parada,
uma encruzilhada para onde convergem todos os caminhos. Uma reflexão. É no
Mundo denso, energeticamente negativo, que vamos deixar as vestes virtuais
velhas (o invólucro da materialidade), rasgadas (atitudes equivocadas,
perdidas, desperdiçadas), despojar-se das vaidades, desejos e sentimentos
fúteis e quebrar o ego e enfrentar os medos. Como um Filho Pródigo, abandonamos
o “passado terreno” (as conquistas daquilo que é “Irreal”, que não se leva
depois da morte), nos limpamos e recomeçamos num mundo novo onde as conquistas
são “Reais” (Aquilo que levamos depois da morte).
O Meio é o recomeço, a busca das
origens primordiais. A vivência de todas as conquistas espirituais (a
reconquista daquilo que é Real, as conquistas espirituais). Dentro da sequência
lógica, é a evolução rumo ao nosso kárma original (Causal), a busca da casa do
Pai.
O Fim, que na verdade é apenas o fim
do ritual, é na verdade o começo da evolução primordial que buscamos por nosso
próprio arbítrio. É o re-encontro com o Pai.
No procedimento técnico da Camarinha
temos, nas três etapas (Princípio, meio e fim) ensinamentos de ritual,
disciplina e práticas ritualísticas. Os ensinamentos ou disciplina de
entendimento referem-se ao autoconhecimento e aos esclarecimentos de magia. Os
rituais constituem-se de práticas, vivências, aplicação, e a conquista de
sentir o mundo sobrenatural (transe anímico). Como o Ritual (procedimento) só
se transmite em ambiente propício e oralmente por tradição, em sinal de
respeito não ensinaremos aqui nenhum ritual. Ensinar rituais de magia a pessoas
não preparadas especificamente para aprender e praticar, é a mesma coisa que colocar
uma arma de fogo carregada nas mãos de uma criança inocente. Não que o Ritual
seja uma arma. Não é isto que estamos querendo dizer. Estamos apenas tentando
demonstrar o quanto é perigoso um conhecimento que pode interferir no arbítrio
das pessoas, ser usado por quem não sabe manuseá-lo. Os Rituais são segredos de
sacerdócio. Por isto não confunda segredo com mistério. O mistério é para ser descoberto e o segredo é para ser guardado.
Mas, como é nossa obrigação ensinar,
diremos apenas no que se refere a rituais, que “querer é poder, e poder é
saber querer fazer”. Para bom entendedor, meia palavra basta.
Quanto às Disciplinas a serem ensinadas
nas vivências ritualísticas, diremos que cada grau de Camarinha possui o seu
“currículo” próprio, adequado e que pode variar de Templo para Templo,
dependendo da orientação superior do Guia Chefe.
As Camarinhas são normalmente divididas
em graus de aprendizado compatíveis com a evolução da pessoa. Por isto existem
Camarinhas de Anjo de Guarda, que serve para todos os iniciantes e assistentes
ou membros da coletividade (esta Camarinha representa o Primeiro Sacramento da
Umbanda que é o Batismo, embora não seja o Sacramento propriamente dito já que
para isto existe um ritual específico); Camarinhas de Harmonização psicossomática
(alma e corpo) para todos os membros da comunidade, que servem para harmonizar
a vida das pessoas para enfrentar as vivências do dia-a-dia; Camarinhas de Bori
de Caboclo para médiuns e também para membros da coletividade que quiserem
evoluir mais profundamente nos mistérios da criação, pois esta camarinha é um
dos Sete Sacramentos da Umbanda (Equivalente à Crisma dos católicos); Camarinha
de Casamento que é um dos Sete Sacramentos, específica para quem quer casa nos
rituais da Umbanda; Camarinha de Primeiro Ano de Santo que é mais um Sacramento
da Umbanda, equivalente a Confissão dos católicos; as Camarinhas de Segundo,
Terceiro, Quarto, Quinto e Sexto anos de Santo são “reforços” sacramentais que
permitem a depuração da evolução rumo ao próximo Sacramento, já que efetua o
junto de cada Santo que compõe a “Vida Espiritual” e a presente encarnação do
médium; a Camarinha de Sétimo Ano de Santo é também conhecida como Camarinha de
“Junto” onde o (a) Iaô alcança o grau de Sacerdócio ao receber o Sacramento que
é equivalente à Comunhão dos católicos. É a obrigação onde o médium sacerdote
recebe o “Deká” ou o Poder de abrir seu próprio Templo; após o “Junto”
seguem-se Camarinhas de reforço, vivência, prática real, levantamento e
harmonização até os 21 Anos de Santo onde o médium recebe o grau definitivo de
SACERDOTE com o título de Babalaô, Babalorixá, Ialaô ou Ialorixá e o Mestrado,
que é mais um dos Sete sacramentos da Umbanda, semelhante à Ordenação dos
católicos.
Podem existir outros tipos de Camarinhas
dependendo do Sacerdote Chefe de um Templo junto com seu Guia Chefe.
Em alguns Templos Umbandistas, o
Sacerdote ou a Sacerdotisa costumam seguir os princípios das Camarinhas de
formação sacerdotal para os médiuns da casa e, para os assistentes, a Camarinha
de Anjo da Guarda.
Segundo os Dirigentes, os ensinamentos
prestados fazem parte do “Currículo” dos médiuns que receberam o “Deká” na
Camarinha do “Junto”. Entretanto não são proibidos a ninguém. Quem quiser
conhecê-los tem toda a liberdade de procurar as fontes corretas de ensino que
estão dentro do próprio Templo (Como, por exemplo, as Bibliotecas ou o Centro
Cultural dos Templos). Conversando com alguns sacerdotes, para eles é
importante que cada um busque o seu desenvolvimento e não fique preso a ninguém
ou esperando que caia do céu. Ainda segundo eles, não existe a preocupação de
que alguém aprenda algo que está “fora do seu tempo”, porque o tempo de cada um
é conquistado pela força de seu próprio Livre Arbítrio. A cultura não faz mal a
ninguém. Principalmente a Cultura Umbandista. Os segredos ritualísticos de que
esta matéria faz parte são dados somente a quem de direito. Parte destes
segredos (e não mistérios) estão embutidos nesta matéria. Quem os conhece
observa como é mais fácil desenvolve-los quando se possui a Cultura dos
ensinamentos tradicionais que o Tempo lhes lega.
NA UMBANDA TEM YAWÔ? DEKÁ? bABALORIXÁ? YALORIXÁ???
ResponderExcluirQuanto custa pra fazer o camarinha?
ResponderExcluirQuanto custa pra fazer o camarinha?
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