ODUDUA, A QUADRATURA DA TERRA
Por Brasão de
Freitas
Salve 02 de Fevereiro
Odudua
(Adapt. Ilustr.
G. Reis)
A Cabala
umbandista se baseia em cinco sinais geométricos básicos. Estes cinco sinais
básicos são: o PONTO como unidade geométrica associado ao Número 1. A LINHA
delimitada precisa de no mínimo dois pontos que, unidos lhe dão origem, e por
esta razão, fica associada ao Número 2. O ÂNGULO, delineado por três pontos não
co-lineares, é associado ao Número 3. O QUADRADO é delineado pela união de dois
ângulos ou 4 pontos, dois a dois não co-lineares, ou seja, duas linhas não
coincidentes mas paralelas; ele está pois relacionado com o Número 4.
Estes 4 sinais
são relacionados com os 4 Pilares do conhecimento humano, com os 4 elementos da
natureza (Fogo, Terra, Água e Ar), com os 4 pontos cardeais da Terra, com o
Tetragrama Sagrado dos Cristãos (A Cruz) e o Tetragrama de Moises (Iod, Hê, Vô,
Hê).
A Terra não é
quadrada mas é formada por 4 Elementos radicais da Natureza que a representam
como um quadrado, símbolo fechado em relação ao infinito, ou por uma cruz que é
um símbolo aberto em relação ao infinito. Os quatro valores numéricos somados
entre si, formam uma síntese: 1+2+3+4 = 10. O número 10 representa o máximo da
década. O 10 encera em si todos os outros números e representa o CIRCULO que
encerra geometricamente em si, os quatro sinais geométricos e os quatro números
associados aos sinais que deram origem à síntese, isto é, 4 números somados dão
origem ao dez, símbolo do Círculo: ou, a Quadratura do Círculo.
Segundo o Mito
Yorubá, Olorun o Deus Supremo, criou Obatalá (O Criador), Olokun (O Mar) Odudua
(A Terra) e Orumilá (O Tempo). Deu a Obatalá a sacola com o pó mágico da
Criação e incumbi-o de Criar o Mundo. Obatalá (Também chamado de Orixalá)
adormeceu (Distraiu-se) e Odudua aproveitou a distração, pegou a sacola da
criação e começou a criar o mundo. Quando Orixalá acordou enfureceu-se contra
Odudua mas Olorun o conteve e ordenou que ele criasse o ser humano e o
colocasse no mundo para dominar o universo criado. Com a ajuda de Olokun (o
Mar) e Orumilá (o Tempo), o Universo foi organizado e a saga dos seres humanos
começou no universo. Desde então, Odudua tornou-se a genitora da Terra e
Obatalá o gerador dos Espíritos. A união se daria no Mar (De Olokun que criou
Yemanjá para que fosse o útero da criação) sob os auspícios do Tempo (Orumilá
que criou Obá para controlar o tempo co-eterno, ordenado).
Nesta Criação
conjunta, Odudua é a Igbamole Iyangba, a Mãe que recebe, que representa o
coletivo das Iya-mi ou Mães Ancestrais e Yemanjá o Poder Genitor feminino que
tudo gesta. Mas foi Odudua que foi associada à metade inferior da Igbá-Odú (mãe
dos elementos materiais), portanto à cor Preta (Símbolo da matéria
indiferenciada) e à Terra, a Água, o Fogo e o Ar (Símbolos da matéria
diferenciada), enquanto Yemanjá foi associada ao surgimento do ser humano.
O Céu (De
Orixalá) e a Terra (De Odudua) representam, juntos, a manifestação da vida no
Universo Astral.
Por isso, Odudua representa a Mãe Terra em oposição
ao Céu, que é domínio de Oxalá.
Em alguns Candomblés e na Umbanda, Odudua é parte
integrante da dualidade masculino/feminino original que estabeleceu a Terra.
Ainda segundo os Candomblés, é do eterno contato
entre Oxalá e Odudua que surge o seu produto genérico: o axé universal ou a
constante força de renovação e manutenção da vida.
Fica definitivamente esclarecido que, nos cultos
africanos, Oxalá e Odudua estão diretamente ligados à criação: Oxalá o céu
(espírito) e Odudua a terra (o mundo no qual viverão os espíritos).
Enquanto Oxalá criou o céu, isto é, deu forma ao
espírito, Odudua criou a terra, preparada para receber o espírito.
A Terra (Domínio de Odudua), no sentido místico da
Criação, representa o Mundo Material, sede dos espíritos “caídos”. (Entenda-se
aqui como espíritos caídos, todos aqueles que descerem ao mundo da Forma,
inclusive nós), enquanto o Céu representa a estabilidade da matéria-prima do
Universo Criado; a Terra é o eterno poder dos sentidos que transmitem através
do psiquismo as informações do meio ambiente afim de que o espírito tome
ciência e interaja com o meio ambiente.
Enquanto Oxalá é o Senhor do sol, sem ser o Sol,
Odudua é a Senhora da terra, sem ser a Terra. Ambos são Senhores da Criação, um
dependendo do outro.
A Terra é, pois a ordenação do mundo material e
suas leis regulativas.
A Terra é constituída dos reinos inferiores da
Natureza (mineral, vegetal, animal) atuando harmonicamente com os quatro
elementos (fogo, terra, água, ar), que formam a estrutura de tudo o que existe
no Universo (A terra simboliza o universo).
Odudua é o Poder contido nas coisas do Universo
Material. É o sentido passivo do Poder Espiritual; os limites do universo
individual e total.
Para o Grupo Popular, Odudua representa o Princípio
Revelado ou mundo exterior. Assim como Oxalá é a Formação no Princípio Criador,
Odudua é a Produção, o universo ou mundo sensível, onde nos movemos, nascemos e
morremos. A este mundo pertence nosso corpo com a vida celular. É o mundo da
matéria densa, da matéria-prima diferenciada.
Odudua é mãe da terra, é mãe do ar, é mãe do fogo,
é mãe do mar, é mãe dos filhos aqui da Terra, é Luz que brilha em todos os
Congás.
CRÉDITO Figura de Odudua: Adaptação à
Ilustração belíssima de G. Reis, capa da revista Destino. A Ilustração original
mostra uma figura emblemática que aparentemente recebe influxos vibratórios do
Zodíaco (Cosmos). Esta retratação é tudo o que os Yorubás atribuem como poder
ao Orixá Odudua. Daí a nossa escolha para a adaptação (Foi colocada imagem da
Terra sobre um escudo originalmente sustentado pela figura imponente da mulher
que mais parece uma deusa do Olimpo. Fizemos a adaptação pela dificuldade que tivemos
para encontrar imagens de Odudua, já que este Orixá quase não é cultuado e já
está no esquecimento, embora seja de uma importância capital para os
umbandistas.), já que não encontramos imagens significativas suficientes deste
Orixá aparentemente esquecido.
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