sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Item 10 – OS ELEBARAS NA UMBANDA (Parte 2)

QUIMBANDA (EXU/POMBAGIRA)
(AXIRÔS/ELEBARAS)
Por: Brasão de Freitas

Parte 2 – PRINCIPIOS ELEMENTARES DA QUIMBANDA

Belial

PRINCÍPIOS ELEMENTARES DA QUIMBANDA
Muita confusão existe a respeito da Quimbanda. Anos e anos de incompreensão, seja pela omissão de um babalorixá na transmissão de conhecimentos a seus filhos, seja em virtude de elementos inescrupulosos que a usam em benefício próprio para satisfazer os seus egos.
Tudo isto aliado a um sincretismo malfeito com a doutrina católica e outras religiões espíritas ou não, originou uma visão deturpada, que ainda hoje muitas pessoas têm em relação a Exu e a Pombagira, conhecidos como Elebaras.
Entretanto, os Elebaras são bem diferentes do diabo cristão. É importante distinguir a verdade de todas as infâmias e mentiras que dizem do Elebara, pois estas entidades do panteão africano tem fundamental importância, interligando e dinamizando os diversos planos em que se divide a criação do universo.
A Quimbanda é uma religião espírita (Ela existe como religião em função dos espíritos que lá vivem aprisionados), formada por espíritos em evolução, em níveis de simplesmente espíritos em processo encarnatório, ou em níveis de entidades que ocupam grau de comando chamadas de Orixás de esquerda (Chefes de falanges ou legiões, etc.), sem entretanto ser um “Axirô” ou força equilibrante dos Orixás. Estes últimos são representações em oposição equilibrante na Quimbanda, dos Orixás da Umbanda. Os espíritos mesmo que em graus mais elevados, presos às energias negativas da substância etérica, continuam sendo espíritos, já “Axirô” é uma Vibração energética caótica em oposição à energia espiritual luminosa do Orixá. Na Quimbanda o conceito do bem e do mal é condição necessária ao aprendizado das entidades, mesmo porque os Elebaras não fazem nada por conta própria, sendo sempre mandados. Como toda religião espírita, a Quimbanda é formada por legiões que se agrupam em planos e subplanos, formando agrupamentos e subagrupamentos, num serviço de atuação terra-a-terra.
Os espíritos que nela trabalham estão na fase elementar, isto é, em evolução dentro de certas funções kármicas.
A incompreensão a respeito destas entidades tem muito a ver com os pregadores de outras religiões, tanto na África como no Brasil, o espírito limitado de certos estudiosos e os relatos cheios de preconceitos e temor dos senhores coloniais. Por suas cabeças nunca passou que a resposta dos negros em forma de magia ao estado de escravidão era na verdade um grito de socorro e de liberdade na direção dos direitos humanos. Ora, os escravos entendiam que, se suas liberdades físicas podiam ser privadas pela força e pelo poder dos senhores, eles, os escravos, sentiam-se no direito de tirar destes mesmos senhores a liberdade da alma.
Nessa guerra, o medo sentido pelos senhores era justificado, pois existia o mistério no culto que cercava as figuras do Exu e da Pombagira, portadores da força que interpenetrava todos os aspectos da existência, principalmente a doença. Além do mais, seus alimentos eram preparados por mãos escravas que a qualquer momento poderiam provocar uma morte ou doença por envenenamento. Portanto, era uma força sem ética, pois tanto podia beneficiar o homem como prejudicá-lo, sendo veículo do castigo dos Orixás.
Foi assim que a magia negra africana ficou gravada na figura de sues executores, os Exus.
Para a Quimbanda o mundo dinâmico é uma interligação e equilíbrio de forças, onde as existências reais não representam o aspecto exterior das coisas. Da mesma forma, não existe uma fronteira rígida entre o bem e o mal.
O Elebara é o Poder Organizado na “ordem telúrica”. Elebara quer dizer literalmente, “senhor do corpo” ou aquele que comanda o corpo ou a matéria densa organizada Elebara é um codinome, um “poder” atuante, sem emoções e inflexivelmente cumpridor das Leis da Natureza, “atuando” na vibração dos Elementos e “realizando” na vibração dos Elementais.
Em virtude da formação elementar, as forças chamadas Elebaras operam por afinidade astral ligados às salamandras, silfos, ondinas e gnomos, que são respectivamente os elementais (emanações espirituais) do fogo, do ar, da água e da terra (espíritos da natureza), e de onde eles tiram e formam energias que alimentam e mantêm pelo próprio poder vibratório. E, como manuseiam os elementos formando misturas químicas e espirituais, então são controlados pelo éter químico, que é o poder de Ogun. Em função disto, todos os Espíritos que estão envolvidos (presos) pela força telúrica das Trevas (Quimbanda), trabalham debaixo e em sintonia com as Vibrações dos Elementais da Natureza (Fogo, Terra, Ar, Água) que não pertencem à Quimbanda.
Para suas ligações terra-a-terra, utilizam as emanações fluídicas do sangue, além do que é o elemento básico da vida material, do álcool, do dendê, da farofa, da carne crua (com sangue), da pipoca, da pimenta e outros elementos de que fazem uso com a seguinte finalidade: o sangue, para que não seja derramado pelo médium; o álcool, para evitar qualquer tendência ao vício pelo médium; o dendê para evitar que o médium tenha agitações descontroladas de ordem psíquica; a farofa para evitar que o médium passe fome; a carne, para evitar que o médium mate qualquer ser fora das regras da Natureza; a pipoca para que o elebara atraia para si possíveis doenças kármicas dirigidas ao médium; a pimenta, para frear os excessivos instintos principalmente sexuais do médium. Pela sua condição de neutralidade diante da lei kármica o elebara pode energeticamente falando, transmitir e ligar forças como também pode separar e confundir. É por isso que o consideram patrono das trevas e da magia negra. Constitui sempre elemento essencial a toda e qualquer manifestação do mundo dos Orixás: é portador da voz de Ifá (Orixá que preside a adivinhação), é o porteiro de Ossãe dando acesso ou não às ervas sagradas, controla os eguns (alma dos mortos ancestrais que vêm em certas cerimônias), é também o guardião de todos os portais entre Luz e Trevas e é o mensageiro, servo e cobrador das coisas dos Orixás.
Na Quimbanda, a encruzilhada é a intercessão de dois caminhos, representando uma parada, uma alternativa, uma opção e também uma dúvida. A necessidade maior de se dar passagem para a esquerda (os médiuns) reside em que, ao permitir a atuação desses seres do mundo das trevas, o médium joga para fora de si uma carga energética negativa (É como se a carga que estivesse no médium fosse consumida pela entidade). Esse processo canaliza os aspectos animalescos do médium na direção da humanização e da espiritualização. Sem o descarrego periódico das vibrações negativas que se acumulam no canal mediúnico do médium, este é levado ao desânimo, preguiça, menosprezo, doenças, etc., fatos que o conduzem ao desequilíbrio e, fatalmente, ao centro da encruzilhada.

Como diz o OGBE MEJI: “Orunmilá diz que as coisas devem ser feitas pouco a pouco: Eu digo; é pedaço por pedaço que se come a cabeça do preá; é pedaço por pedaço que se come a cabeça do peixe.”

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