sábado, 22 de dezembro de 2012

Item 3 – CULTURA RELIGIOSA - Solo Sagrado


3 – VIDA RELIGIOSA (4 de 10)
VIDA RELIGIOSA Parte 4

Templo Cristão, Templo Umbandista
(Soft Key, Templo Pai Taquiri das 7 Ondas)

O TEMPLO – Solo Sagrado
O CAMINHO PARA O SAGRADO
Após tomar conhecimento de que existe um caminho diferente da vivencia do dia-a-dia, de que existe algo mais do que ter que se defender, sobreviver num meio hostil, de disputas e lutas pelo poder, de que precisa se entender com as demais pessoas, que precisa respeitá-las para ser respeitado, que precisa ter fortaleza mental, que precisa ser puro em suas convicções, de que precisa ter sabedoria para viver, e que precisa que haja justiça para que todos sejam iguais, o ser humano descobre que existe um outro universo diferente daquele em que ele vive e que ele pode se comunicar com este universo invisível chamado Religião.
Mas, para que isto aconteça é preciso que haja condições especiais do tipo “estado de espírito”, e locais adequados que sejam diferentes de todos os lugares do dia-a-dia. Um espaço que pode ser um local isolado naturalmente (um sítio, uma mata virgem, etc.), o que é muito difícil hoje em dia, ou então um local que seja isolado artificialmente, do mesmo modo que os ambientes familiares (as casas). Um local qualquer que possa ser dedicado ao processo da mudança de estado de espírito. Um Templo ou local sagrado consagrado à Religião. Seria isto possível? Vamos analisar juntos sempre tomando como base ou exemplo a própria vida cotidiana.
O que interessa é o espaço tal qual é vivido pelo homem, que vem de uma existência profana e se religa ao Cosmos Espiritual por força de sua consciência, e que ele, tomando como desafio em sua própria vida, o transformará em Campo Sagrado.
Mas porque será que o Templo tem tanto poder se ele é uma construção como outra qualquer, num lugar qualquer igual a qualquer outro?
Observando em volta de si mesmo, em sua comunidade, o homem observa que a Igreja ou Templo que existe numa rua qualquer de sua cidade, participa de um espaço diferente da rua onde se encontra. A porta que se abre para o interior do Templo, significa uma solução para a “mudança” de consciência. A porta separa os dois espaços (o profano e o sagrado) e indica ao mesmo tempo a distância entre os dois mundos do ser, o profano e o religioso. É o limite, a fronteira entre os dois mundos.
Assim, o Templo tem poder porque o ser humano, conhecedor do poder, é capaz de manusear e direcionar este poder para onde quiser. Isto é um dom do ser humano.
É por isto que o Templo Sacro de uma Religião é o Solo Sagrado onde ocorrem as invocações, evocações, súplicas, apelos ou qualquer outro tipo de contato com o Mundo Espiritual.
Um território desconhecido, estranho, desocupado, o homem é capaz de ocupá-lo e transformá-lo num local de poder como faz cotidianamente nos seus afazeres com suas metas de crescimento tais como transformar um local qualquer num local de ganhar dinheiro (comércio, escritório, consultório, loja, etc.), ou um local de lazer (ginásio, arena, campo de jogos, de competições, praças, etc.) ou de divertimento (circo, cinema, ou um clube com práticas esportivas, etc.), ou ainda, da mesma maneira, num lugar sagrado (templo, auditório, escola, etc.).
Mas o Templo não é um lugar de ganhar dinheiro, de lazer ou de divertimento. O Templo é um local de poder espiritual onde o sagrado é o real por excelência, ao mesmo tempo poder criador e transformador, local de eficiência no uso da percepção, fonte de vida, fonte de fecundidade e certeza de evolução transcendental.

A TRANSMUTAÇÃO DO HOMEM E DO ESPAÇO
Transformar um local profano num local sagrado e um ser profano em um ser iluminado é transformar ambos num Cosmo mediante uma repetição ritual da Cosmogonia que é a genealogia da Criação, ou seja, repetir simbolicamente o ato da Criação do Universo, pois toda criação tem um modelo como exemplo. Isto quer dizer que a criação do Templo tem com exemplo a Criação do Universo.
Este é o grande segredo que envolve o Templo. Ao transformar o espaço escolhido até então desértico de energia espiritual, o homem repete o ato dos Deuses Criadores (Orixás) que organizaram o Caos da Substância Etérica, dando-lhe uma estrutura, formas e normas.
Situar-se num lugar, organizá-lo e habitá-lo são ações que pressupõem uma escolha existencial: a escolha do Universo que se está pronto a assumir, criando-o. Este Universo criado é sempre a réplica, a imagem ou o reflexo do Universo que serviu de exemplo, que é habitado pelos Deuses (Orixás).
Compreende-se porque é que o Templo participa de um espaço de todo diferente do espaço das aglomerações humanas que o envolvem. No interior do recinto sagrado se torna possível a comunicação com os Deuses. Por consequência, deve existir um Portal para o alto (o Céu), por onde os Deuses podem descer a Terra e o ser humano possa subir simbolicamente ao Céu. Assim o Templo constitui uma abertura para o alto que assegura a comunicação com os Deuses, e isto constitui uma certeza de que as súplicas e pedidos humanos serão ouvidos pelas divindades. Por isto o Templo é um lugar de poder e nele, já transformado, o ser humano também se transforma.
O novo espaço passa a ser o Centro das Mudanças, o Centro da Esperança, o Centro da Evolução, o Centro das Decisões, o Centro do Mundo ou simplesmente “O CENTRO”. Quando o devoto diz: eu vou ao “Centro”, ele quer dizer ao Templo ou ao Centro do Mundo. Desta forma, o Centro do Mundo possui uma das mais profundas significações do espaço sagrado. Lá onde se efetuam as quebras de Níveis (os Níveis de preceitos, de preconceitos, e do Ego), operou-se ao mesmo tempo uma abertura para cima (o mundo divino), e para baixo (as regiões inferiores, o mundo dos mortos). Os três níveis cósmicos, ou seja, a Terra, o Céu e as regiões inferiores, tornaram-se comunicantes e por isto em cada Portal foi colocado um Guardião. Visto que o Centro do Mundo é um Cosmo, todo ataque exterior ameaça transformá-lo em Caos. Do mesmo modo, todos os adeptos que ao Centro recorrem. É assim que se estabeleceu a estratégia de defesa, e então todos que ao Centro recorrem também estão protegidos.
Continua (5 de 10).


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